Especial: Entrevista com Alexandre Lancaster!

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Sim, pessoal, hoje temos um especial aqui no grupo. :la:

Tenho o prazer imenso de entrevistar o editor-chefe da revista Ação Magazine: Alexandre Lancaster! Uma entrevista esclarecedora, que vai fazer você entender mais o porque do "sumiço" dele nas redes sociais, e saber do destino da revista.

Leiam!... e preparem-se, pois o post é grande :3
Entrevistado de hoje:

:iconalexandrelancaster: Alexandre Lancaster!



Imagem de Expresso, de Lancaster


AcaoMagazineFan: Seu nome, idad... Ei, peraí, isso todos já sabem....
Como surgiu a ideia de criar a revista Ação? Você queria criar uma nos moldes da Shonen Jump mesmo, que é sucesso estrondoso no Japão, ou viu também uma oportunidade de conseguir publicar sua história Expresso?

AlexandreLancaster: Bom, vamos dizer que a coisa nasceu com Expresso mesmo. Eu lá pelo final dos anos 90 estava trabalhando em uma editora pequena do Rio de Janeiro, a Taquara Editorial, em um projeto de super-heróis que acabou não indo para a frente. Eu comecei a trabalhar em Expresso logo a seguir na mesma época, mas era inexperiente – e me juntei a um sócio para produzir uma revista em formato americano que tivesse quatro histórias na estética mangá. A coisa não foi para frente por motivos que não vem ao caso agora, mas eu tinha um conceito pelo qual estava apaixonado e queria produzir. E pensei realmente em fazer algo por mim mesmo.

Mas acabei percebendo que bater as portas com o projeto não adiantaria nada. Internet não era uma coisa tão efetiva naquele tempo, meu computador era de banda discada e as editoras nos anos 80 migraram para São Paulo, a coisa era muito difícil para quem estava fora de lá. E é difícil ser comercial: culturalmente brasileiro gosta de volume. Nem há como negar isso: mesmo uma revista da mônica oferece bastante pelo custo-benefício. Holy Avenger desafiou essa regra e se saiu bem com uma revista mensal de vinte e poucas páginas, mas justiça seja feita, ele teve o apoio prévio do público de uma revista existente e uma editora que foi paciente em segurar a publicação até que ela saiu do vermelho (na edição nº11, se me lembro bem). Não estou desmerecendo a qualidade do material; mas sem apoio, não adianta o projeto ser o melhor do mundo.

O ponto é que eu entendi que se fosse jogar Expresso na cara e na coragem sem apoio nenhum, eu viraria mais um case de mercado fracassado – mais um que teria uma revista jogada nas bancas, sem divulgação nem nada, que teria três números no máximo, e depois iria ser usado como munição para o discurso de "isso não vende" – ou pior, poderia ficar fazendo um álbum anual, virar um desenhista de fim de semana enquanto viveria de outra coisa. E quando casasse e tivesse filhos, nem esses fins de semana teria mais. Eu não tenho vocação underground, gosto de fazer materiais que acredito que todo mundo possa ler. Houve uma tentativa minha na Anime Pro de fazer um "almanaque online", o Ação Total – mas complicou em parte por conta dos envolvidos, em parte pela ausência de uma compensação financeira que mantivesse os autores produzindo e em parte pelo fato de eu não poder atualizar o material quando bem entendesse. Era o óbvio: não dá pra fazer uma revista pagando amendoins, caso contrário o autor cansa compreensivelmente e vai fazer outra coisa da vida. Perdemos muitos grandes quadrinhistas em potencial para o design por causa disso. E claro que interessa a muita editora nanica manter esse discurso de 'não é viável', para continuar pagando amendoins em cima da ansiedade de uma pessoa em publicar seus quadrinhos – e da falta de opção que se encontra.

Nesse meio tempo, fiz duas faculdades, uma de design na UNESA e outra de jornalismo na UGF, aqui no Rio de Janeiro. Acredito que ambas tenham sido muito importantes para mim e aprendi muito enquanto amadurecia a ideia de um almanaque.
Porque eu já havia me dado conta da imensa eficiência de um sistema similar ao japonês: você tem tempo para produzir, porque faz um número reduzido de páginas por capítulo; se sua série não emplacar, a revista prossegue e a editora não tem perdas. Claro, tivemos revistas tipo a Desenhe e Publique Mangá, mas elas não tinham esse critério de fidelizar o leitor com séries; jogavam histórias curtas de gente que queria aparecer, com um nível muito irregular de qualidade. Não adianta, mangá é folhetim, e precisa de espaço narrativo para ser trabalhado; mangá de oito páginas não consegue ser mangá por questões narrativas. Os europeus mais tarde conseguiram solucionar isso combinando alta densidade de quadros por página e comprimindo a narrativa mangá nelas – e com resultados muito interessantes – mas isso não é mangá nem bd clássico, é um híbrido que reúne o melhor de dois mundos e que pode ser encontrado nas obras de autores como Jean-David Morvan por exemplo.

Mas estou me desviando. O ponto é que eu percebi que poderia ir mais longe do que simplesmente me autopublicar e acredito que a Ação em si é maior do que as partes. É algo que oferece um método viável e que permita que a equipe possa se dedicar prioritariamente a ele em termos financeiros. E eu poderia beneficiar muito mais gente, e ajudar a transformar de forma séria o mercado. Eu poderia simplesmente ter reunido meus recursos, criado um estúdio e fazer uma revista só com criações minhas, de posse da empresa. E eu não quis fazer isso. Quis fazer algo que beneficiasse os envolvidos, que tivesse uma cara comercial, que pudesse ser trabalhado em forma de merchandising e retorno para todos. Eu sempre acreditei nisso a sério.

AcaoMagazineFan: Como foi o processo de formação da sua equipe de autores? Will era fanzineiro, Petra já famosa por seus trabalhos... Houve indicação, você foi o “olheiro”...? Explique.
AlexandreLancaster: Eu reuni primeiro escritores. Queria antes de mais nada conceitos que funcionassem e que tivessem personalidade própria. Eu queria gente que tivesse algum estofo cultural para produzir – eu não queria ver clones de Naruto ou Bleach na minha revista, precisávamos de material com personalidade. Trabalhei como editor a maior parte deles, antes de oficializar o projeto. Alguns nomes chegaram a mim completamente por acaso, como a equipe de Jairo, mas valeram a pena. Tivemos bastante tempo antes de sairmos da toca.

AcaoMagazineFan: A Ação venceu no ano passado o prêmio Angelo Agostini, um prêmio consagrado, em duas categorias. Como foi para você e sua equipe receber este prêmio?
AlexandreLancaster: O prêmio corresponde a edição 1, que foi a única a ter saído (o 2 saiu muito em cima), e apesar de coisas a corrigir na primeira edição, eu acredito que valeu o esforço e foi mérito dos autores publicados naquele número. E temos que parabenizar o Maurílio também por Tunado – um título que eu esperava que enfrentasse certa rejeição do público hardcore, mas eu sabia que ao entrar em contato com pessoas comuns, não tão habituadas a ler quadrinhos, teria uma recepção mais positiva. A partir do que eu estou testemunhando, parece que é o que está acontecendo.

AcaoMagazineFan: A revista hoje passa por um momento de ‘crise’, e há um hiato muito grande entre uma publicação e outra. Sua editora é nova no mercado, teve todo o cuidado e processo de planejamento, porém mesmo assim os problemas foram inevitáveis. Quais adversidades você encontrou neste caminho que não estava esperando acontecer, e se elas foram os motivos dos problemas?
AlexandreLancaster: Não diria crise. Crise seria se não estivéssemos resolvendo os problemas – e estamos removendo um a um os verdadeiros entraves que prejudicaram a revista. Isso não se faz da noite pro dia e pode ser um inferno na vida de um ser humano, mas logo após a páscoa a 2 estará finalmente em bancas – e embora tenha havido um novo atraso, agora finalmente o processo está como deve ser. O que falta fazer é anunciar a periodicidade estabelecida, e isso será feito em um anúncio oficial. Isso também trará uma mudança: não haverá mais hiatos, mas em compensação não teremos mais uma diferença tão grande entre a ida da revista a bancas e a outros pontos de venda. Podem reparar que enquanto a revista não ia às bancas, ela estava sempre disponível em gibiterias e outros lugares, mas isso é paliativo; agora é hora do remédio chegar.

AcaoMagazineFan: O ‘caso Arcabuz’ foi uma das primeiras ‘vazadas de bastidores’ que houve publicamente, através do grupo oficial do Facebook, além de outras situações parecidas. Como você vê essa ‘transparência’ que a revista tem passado pro seu público da internet?
AlexandreLancaster: Algumas coisas vão mudar quanto a isso. O leitor não quer saber desses detalhes, quer acompanhar as histórias. Mas as anunciaremos em breve. O ponto é que há alguns motivos pelo qual temos estado ausente da comunidade do facebook, mas anunciaremos isso em breve junto com os demais anúncios oficiais. E esperamos contar com os leitores, seriamente.

AcaoMagazineFan: Como é ser autor e editor-chefe da revista? Fale sobre como consegue conciliar os dois trabalhos.
AlexandreLancaster: Olhando em retrospectiva, eu fazia isso antes da revista sair e as coisas andavam. Eu pessoalmente admito que eu gostaria de falar mais da minha própria série, mas ela tem que mostrar ao que veio e não vou conseguir fazer isso falando – eu tenho é que desenhar e escrever. É o que tenho feito. E também tenho que administrar a empresa, lidar com muita coisa ao mesmo tempo. Houve desgaste, inclusive físico; eu voltei a praticar boxe após um ano e seis meses de ausência, cuidar da parte financeira e tudo o mais. E também tive que cuidar do meu trabalho, o que foi praticamente uma reinvenção; eu trago influência de duas escolas conflitantes, o mangá e os fumettis – meu traço é mangá, mas minha arte-final remete aos fumettis italianos. Isso não foi bem aceito e mal ou bem, faz parte do trabalho do ilustrador se ajustar ao que seu público quer. Isso não impede que eu faça outras coisas, e teremos em breve um livro meu que nada tem a ver com Expresso, e introduz outro cenário de minha criação – ele já foi escrito e revisado, mas disso eu falarei no devido momento – mas a verdade é que toma boa parte do meu tempo e não é a toa que periodicamente eu seja difícil de ser encontrado mesmo. É porque alguma coisa eu estou fazendo. :)

AcaoMagazineFan: Há projetos recentes que foram inspirados e impulsionados pelo seu projeto, dois recentes que estão sendo divulgados no momento no grupo oficial da AM são: Nanquim Digital e Conexão HQ, sendo a primeira da forma digital. Você, no inicio do projeto da Ação, não considerou lançar a revista no formato digital? E o que pensa deste formato?
AlexandreLancaster: Os quadrinhos digitais estão para ficar, e temos planos nesse sentido; mas sendo direto, eles ainda não dão um retorno financeiro tão sólido. Ainda está se estabelecendo um modelo comercial para eles, e até que ele chegue, fica na base da conta e risco. Há projetos interessantes, como o Ledd do J. M. Trevisan e o Lobo Borges, e eu não descarto a possibilidade de que haja uma webcomic exclusiva para o website da Ação em algum momento. Mas atualmente não se pode descartar o impresso em nenhuma hipótese.

AcaoMagazineFan: O concurso “Seja o Novo!” divulgado em Novembro de 2011 (com término em janeiro de 2012) foi um grande sucesso, muitos enviaram seus trabalhos (inclusive eu :3) e viram isso como uma oportunidade de ser reconhecido. Fale mais sobre ele.
AlexandreLancaster: Um dos motivos pelo qual eu evaporei por um tempo foi justamente avaliar a quantidade monstruosa de material. Tivemos problemas, especialmente por conta de uma mudança de endereço necessária (e tivemos sorte, porque depois que saímos, o edifício praticamente ao lado desabou na 13 de Maio, lembram que isso apareceu na televisão? O velho prédio era logo ali, teve até gente que nos perguntou se tinha acontecido algo conosco). Mas no final tudo se resolveu e podemos dizer que o saldo é positivo, apesar de dois copistas terem sido pegos com a boca na botija (um decalcou Bleach, outro decalcou um hentai). Provavelmente o resultado do concurso será adiantado mais cedo do que vocês imaginam. :)

AcaoMagazineFan: Como ficou o Maximum Cosmo depois do inicio do projeto AM? Qual seu contato com ele agora?
AlexandreLancaster: Aí eu tenho que ser um pouco mais pessoal. Porque eu realmente gosto do Maximum Cosmo, gosto de escrever e se possível manteria o blog constantemente atualizado. Eu volta e meia tiro algo da toca – como essa brincadeira de primeiro de abril – mas por mim, se eu pudesse, trabalharia com uma equipe para notícias e me limitaria a produzir artigos longos com um pouco mais de regularidade. Eu tentei e tive a sorte de encontrar bons colaboradores como a Clara Coelho e o Felipe Onodera, mas eles também tem suas prioridades na vida e respeito isso. As vezes eu olho uma notícia no Natalie ou em outras fontes (notadamente francesas, italianas ou espanholas; elas tendem a reunir dados mais inusitados do que a mídia especializada em língua inglesa, e eu sempre quis manter a personalidade do blog; não haveria espaço nele para falar, digamos, de um AnoHana da vida, nunca quis que ele tivesse um perfil otaku hardcore), e penso: "quero falar sobre isso." Mas algo me diz que a menos que a notícia seja muito especial e mereça um texto mais extenso, não há muito sentido em plantar uma notinha de quando em vez e de vez em quando. Isso já se sentia quando eu escrevia lá; eu tive que parar com as análises de rankings, até porque elas se tornaram repetitivas. Ainda quero ver se consigo escrever mais para ele – e tenho um artigo ou outro para ele no forno, dentro de minhas limitações de tempo – mas agora tenho responsabilidades da qual não posso fugir.

AcaoMagazineFan: O que você acha destes novos projetos que estão surgindo, como Conexão HQ e Nanquim Digital?
AlexandreLancaster: Eu desejo boa sorte a eles. Mesmo.

AcaoMagazineFan: O espaço é seu! Dê o seu recado, para seus fãs, para os fãs da revista, pra quem tá começando, enfim, manda bala! o/
AlexandreLancaster: Tenham cultura. Para os fãs – aguardem mais um pouquinho só, que teremos boas notícias de verdade. Para os criadores, tenham suas próprias ideias. Não queiram fazer seu próprio Naruto ou Bleach, queiram fazer sua história, não um "cover com composições próprias". Conta pontos para isso ler livros. Não pense que por ser uma mídia visual você possa negligenciar a importância da leitura; se você não lê prosa, não tem referências para ver o que você pode fazer com a própria língua, ou de como ideias podem ser trabalhadas. Quem não lê livros não merece confiança ao criar, vão por mim. Muita gente de potencial é estragada por falta de cultura – e isso até em termos de desenhos; ler te ensina a interpretar ideias, e tem gente que não consegue traduzir visualmente instruções dadas por um roteirista porque não sabe interpretar um referencial, é como se isso soasse alienígena para algumas pessoas. Então aprendam o máximo que puderem. Vocês vão agradecer por isso.



PS: eu ia colocar algumas imagens no meio do texto pra leitura ficar mais confortável, mas acredito que vocês nem olhariam pra elas, então nem me dei o trabalho haha :icongiveafuckplz:
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YakushiD's avatar
Fico feliz pelas noticias, esta muito preocupado, sendo que adorei o projeto da AM, espero que volte logo, estou ansioso para poder continuar lendo.....
Edição 1 e 2 muito bem guardada aqui, espero a 3° e as demais, para juntar uma grande coleção!!